Por Camila Araújo e Camila Leão.
Na última terça-feira (13/08), ocorreu o Seminário Obesidade: Uma Ampla Visão, promovido pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA) em comemoração aos seus 50 anos.
“A indústria brasileira toma a iniciativa para discutir o problema”. Esta foi uma das falas da abertura, discutindo sobre as implicações da indústria no país – não só na ponta do iceberg (falando sobre alimentos e alimentação em si), mas também na grande participação e importância econômica desse setor.
Dr. Alfredo Halpern em sua palestra sobre as evidências científicas da Obesidade
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As atividades foram iniciadas pela manhã com a Palestra do Dr. Alfredo Halpern (muito conhecido por ser consultor médico do Programa Bem Estar da Rede Globo, mas que também é professor da USP, Chefe do Grupo Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas de São Paulo, e consultor médico da ABIA), falando sobre o Panorama da Obesidade no Brasil – realidade científica, com o seguinte questionamento inicial: “Por que engordamos tanto?”. O médico discutiu sobre as causas óbvias e não tão óbvias assim da obesidade, além de destacar 3 alimentos que contribuem para o ganho de peso: gorduras, sal e açúcar. Assim como já dissemos em outros posts aqui no blog, acreditamos que o profissional mais indicado para tratar sobre o tema da nutrição é o NUTRICIONISTA! Durante a apresentação do Dr. Alfredo, foram citados alguns estudos que obtiveram resultados muito diferentes dos convencionais (e que pelo menos até então, estão firmados e confirmados por trabalhos de profissionais de diversas áreas). Ao apresentar algo tão diferente assim, é preciso ter cautela com a forma de apresentação e principalmente com o público alvo, visto que esses estudos são novos (e que por enquanto não refletem uma opinião da maioria) e que pessoas leigas podem não entender alguns aspectos e mesmo assim tomá-los como verdades absolutas.
Após finalizar sua apresentação o Dr. Alfredo assumiu o papel de moderador do primeiro painel discutido no evento, com o tema: Visão acadêmica: Fatores e soluções para a obesidade no Brasil. Participaram da discussão o Médico Cardiologista e Nutrólogo, Daniel Magnoni, o Professor Livre-Docente da USP e Chefe da Unidade de Hipertensão do Hospital das Clínicas, Décio Mion Jr. e a Engenheira de Alimentos e Pesquisadora da área de tecnologia do ITAL, Márcia Paesano Soler. Entre alguns pontos destacados na discussão estão a importância da educação alimentar do consumidor, de melhor e mais atenção no atendimento de saúde (a falta de balanças e de pesagens dos pacientes foi um problema recorrente nas falas) e a dificuldade de retirar alguns ingredientes (como o açúcar, por exemplo) da composição de produtos industrializados, além de manter o valor nutricional dos produtos.
À tarde, ocorreram dois painéis, moderados por Fernando Rocha – jornalista, apresentador do Programa Bem Estar da Rede Globo. Em sua apresentação, disse uma verdade sobre a população atual nesse contexto da obesidade: “As pessoas querem ser emagrecidas”, ou seja, as pessoas querem emagrecer, mas sem sacrifícios, sem mudar a alimentação, sem fazer atividade física, enfim, querem que os outros façam algo para que elas emagreçam – nesse sentido, cabe aqui as modificações na composição de produtos da indústria.
Painel 2 – Políticas públicas para o enfrentamento da obesidade no Brasil.
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O segundo painel – Políticas públicas para o enfrentamento da obesidade no Brasil, contou com a presença do Secretário da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Miranda M. Jr, da Gerente Geral de Alimentos da ANVISA, Denise de Oliveira Resende, do Secretário de Defesa Agropecuária – DAS do Ministério da Agricultura, Ênio Antôni0 Marques Pereira, do Presidente da Comissão de Defesa do Consumor da Câmara dos Deputados, o Deputado Federal José Carlos Araújo e do Deputado Federal Alexandre Roso como membro da Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF). Cada um dos convidados para debater o tema apresentou o que seus respectivos órgãos vinham desenvolvendo a respeito e quais eram os projetos para o futuro.
O terceiro e último painel do evento teve como título – O papel da indústria da alimentação no combate à obesidade. As empresas convidadas para representar a indústria, foram a Coca-Cola através do Vice Presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, Marcos Simões, a Nestlé com o Presidente da Nestlé Brasil Ltda., Juan Carlos Marroquín e a Danone com Mário Lozano, Presidente da Danone Brasil. Como já era esperado, todos eles apresentaram empresas “preocupadas com a saúde dos consumidores”, “com a missão de levar saúde, por meio de alimentos, para todos”, “que se importam com um bom desenvolvimento e com hábitos saudáveis desde a infância”, etc.
Durante o debate, o representante da Coca Cola reafirmou que é um compromisso da empresa “manter uma publicidade responsável e nenhuma publicidade dirigida a menores de 12 anos de idade“
Ao final de todos os painéis, eram abertas as perguntas do público, as quais deviam ser feitas por escrito. Nesse momento perguntamos se a Coca-Cola, já que não faria mais publicidade para crianças, iria abrir mão de seus personagens voltados para esse público, como o Papai Noel e o Urso Polar. E adivinhem qual foi a resposta?… “O Papai Noel não é um personagem infantil! Ele é dirigido para toda a família e não apenas para as crianças. No natal, todos os familiares, inclusive os pais, sonham em ver a caravana do Papai Noel da Coca-Cola. Por isso não é necessário abrir mão desse personagem”. Como assim o Papai Noel não é um personagem voltado para as crianças?? Algum de vocês conhece um adulto que mande cartinhas para o bom velhinho, esperando ganhar seu presente na noite de natal?? Concordamos que ele é o símbolo de uma festa que celebra a família, mas o personagem encanta principalmente as crianças e consequentemente a sua publicidade vai ter esse público como alvo! E sobre o urso polar? Bem, ele simplesmente ignorou essa parte da pergunta…
A verdade é que nós sabemos e mostramos diariamente aqui no Blog e na nossa página do Facebook, que essas (e as outras grandes empresas de alimentos) estão mais preocupadas com o lucro do que com qualquer outro aspecto! E sabemos que, para lucrar, muitas vezes elas ultrapassam os limites da ética, mascaram informações, desenvolvem propagandas que levam o consumidor a acreditar que seus produtos são “fontes” de saúde e felicidade, entre outros mecanismos utilizados para persuadir a população.
Apesar das críticas feitas acima, acreditamos que esse tipo de evento, o qual traz a indústria para discutir junto com profissionais de saúde e governo a respeito de temas tão importantes quanto a obesidade, pode ser um facilitador para que as mudanças ocorram. Porém, a população precisa cobrar e fiscalizar resultados a fim de que realmente ocorram mudanças na composição dos produtos e que esse tipo de evento e discussão não fique apenas na teoria, ou seja, não se torne apenas um healthwashing (em que as empresas se mascaram na tentativa de passar a imagem de que estão preocupadas com a saúde dos consumidores).
Além disso, como última (mas não menos importante) crítica e sugestão, em um evento onde o tema principal é obesidade e no qual são discutidos diversos aspectos a respeito de alimentação e nutrição, É PRECISO TER A PRESENÇA DE UM NUTRICIONISTA!